#2 - Histórias, nossas histórias [1ª temporada]
Cleide Souza, a Cleide Lifestyle: do Direito à rotina do campo assistida por milhões de pessoas
É possível que a edição ultrapasse os limites de caracteres/espaço do e-mail. Então, se estiver vendo por ele e isso acontecer, clique no título acima pra vê-la na íntegra no próprio Substack.
No início da nova empreitada, três anos atrás, ela aparecia pouquíssimo. Um canal, a princípio, feito para mostrar a roça brasileira ao exterior. Ali surgia Brazilian Cleide, que mais tarde se tornaria Cleide Lifestyle. A quem já assistiu aos vídeos, fica até difícil acreditar quando essa mineira carismática diz que “tinha uma vergonha danada de falar”.
O primeiro publicado no Youtube, até então no canal Brazilian Cleide, está bem distante de uma super produção. Ainda assim, mesmo no começo, já era capaz de causar uma certa hipnose pela tranquilidade e paz proporcionadas. Pamonha sendo preparada e depois deliciada pelo filho Gustavo, de 11 anos, imagens do verde do sítio, das galinhas, do peixe feito para o jantar…
Ali começava a “história digital” de uma advogada nascida em Mantena, Minas Gerais, e há 16 anos moradora de Teófilo Otoni, também em solo mineiro. Cleide resolveu deixar o Direito há cinco anos para viver da roça, preocupando o pai e os irmãos também advogados. Ela queria ter mais tempo com a família, principalmente com o filho, que é autista – mais tarde, viria outra benção, Geovana, hoje uma menina espoleta de 3 anos.
E essa mulher agora assumidamente “do campo” consegue cativar no ambiente virtual por justamente não se esconder numa personagem. Neste tempo em que tantos padrões são impostos em direção ao sucesso, o caminho dela é a simplicidade.
Se inicialmente mostrar o rosto e falar o tradicional “Oi, meu povo” era algo raro, esse rumo foi mudando com o passar do tempo, sob bastante incentivo da cunhada. Em 2021, publicou meio sem querer em outra conta – que se transformaria no canal Cleide Lifestyle – um vídeo ensinando a fazer um forno a lenha. A repercussão foi boa e ela decidiu que poderia ampliar o conteúdo antes focado nos gringos.
Os vídeos em que mostra a rotina com os filhos e o marido Laureano passaram a ser “mais profissionais”. Com direito a ângulos diferentes, transições, trilha sonora e afins. Isso sem falar na variedade imensa de pautas, que vão da produção completa de chocolates às colheitas e pescas.
E, acredite, mesmo tendo alcançado quase 730 mil inscritos no Youtube e mais de 175 mil seguidores no Instagram (esses números vão crescer, certamente), ela ainda é a “faz tudo”: pensa nos temas e escreve em uma agenda, grava, edita… O mais surpreendente: gravações e edições só com o celular, já que não se adaptou à câmera que comprou e à finalização no computador.
“Olha só, é raridade eu consegui fazer um vídeo simples em um dia. Geralmente, não dá tempo de terminar. Quando tenho que dar continuidade, visto a mesma roupa que tava. E continuo de onde eu parei. Costuma ter um problema danado gravar a continuação quando envolve os meninos. Aí eu vou procurar roupa, fico naquela: ‘cadê as roupas que eles tavam usando?’ E tem vídeos que demoram meses. Eu tô gravando um de pepino, só que se eu tô gravando o pepino desde quando eu plantei a semente, não sei exatamente quando eu vou colher… Talvez até o final do ano, então tem que ficar armazenando aquelas imagens todinhas para poder juntar e fazer o vídeo”, explica.
A vida de influencer do universo agro ganhou tanta notoriedade que rende até reacts de ninguém menos que Casimiro – o primeiro no dia 9 de julho.
Sobre ter crescido o canal pelo “fator Cazé”, Cleide é bem sincera. “O canal já tava grande quando chegou até ele, com mais de 600 mil inscritos. É claro que muitos inscritos meus mandaram mensagem, falando que acharam muito legal ele ter reagido. E o contato foi mesmo muito legal, para as duas partes, mas um crescimento exorbitante por causa dos reacts não teve”, garante.
A aproximação com Casimiro rendeu uma história curiosa. Eles trocaram mensagens pelo Instagram e Cleide enviou uma cesta com alguns produtos da roça para o influencer.
“Eu mandei um monte de coisa, jambo, geleia… Passaram alguns dias, ele não recebia, achei que tivesse extraviado. Fiquei preocupada porque o jambo é bem perecível, tanto que deixei tudo muito bem embalado para chegar inteiro, né?! Aí depois ele descobriu que a produção dele tinha comido tudo.” “Fiquei sem acreditar. Foram dois volumes bem grandes de coisas, mas que bom que pelo menos alguém comeu, né, não foi desperdiçado”, brinca.
O próximo passo dela será o lançamento de um livro digital de receitas (algumas inéditas, nunca postadas no canal), o que deve acontecer em dezembro.
Lá no começo, será que Cleide imaginaria o impacto causado basicamente ao mostrar muito de sua essência?
“Não, porque inclusive eu quase não acompanhava canal assim, então é complicado você fazer né?! A minha cunhada mesmo era a que mais acreditava em mim, porque eu pensava: ‘Sou tão sem graça, tão sem graça, o pessoal não vai querer ver’. E uma coisa ruim é escutar a própria voz da gente, é horrível no começo. Eu não imaginava que alguém ia se interessar.”
É, Cleide, não só alguém, como milhões de alguéns…
Logo abaixo você fica com outros trechos dessa entrevista com uma mulher de fé, extremamente simpática e simples:
EP: O que você considera uma vida bem vivida?
CL: A vida bem vivida pra mim é se eu tiver com a minha família, né? Hoje mesmo tava pensando nisso. Pra mim é pouca coisa que importa, não é muita coisa. Estando com a minha família, a gente com saúde, Deus abençoando a gente, é uma vida bem vivida. Eu achei interessante o que eu vi essa semana, uma pessoa falou de aproveitar o tempo. Aproveitar o tempo é: se você for comer, você coma; se você for passear, passeie; se for interagir com a família, interaja. Porque às vezes a gente vai comer, mas tá com celular na mão. Vai brincar com a criança, mas tá tudo com celular… Vai assistir televisão e ninguém presta atenção um no outro. Então assim, uma vida bem vivida é apreciar, saber aproveitar cada momento.
EP: Hoje se fala muito em desacelerar um pouco. As pessoas estão sempre correndo contra o tempo… Sua vida no campo deve ser corrida, mas é um corrido “mais desacelerado”, por ter esse contato direto com a natureza? Isso deixa a vida mais leve?
CL: É um pouco mais leve, mas, se eu mesmo não prestar atenção, acaba sendo corrido. Eu até falo com o Laureano. ‘Ó, hoje é segunda-feira, amanhã já é sexta-feira de novo’. E vai assim, mesmo morando na roça. Às vezes, se eu quiser escutar o barulho de um passarinho, eu tenho que parar e prestar atenção no que ele tá cantando. Porque se eu não presto atenção, nem isso eu noto, de tão corrido que é. Então, acho que na cidade ou aqui é corrido, porque acaba que a gente mesmo põe essas coisas pra fazer que tumultuam, né? Mas eu tenho tentado o máximo possível, esses dias pensando muito sobre isso, de organizar minha vida pra não não tumultuar muito, curtir cada momento. A gente mesmo é que coloca o pé no acelerador.
EP: O que mais te envergonha na sociedade?
CL: É difícil, é muita coisa. Agora mesmo, nessa época que a gente tá vivendo, até mesmo em Teófilo Otoni… Muita violência, né? Muitas vezes a gente pensa: pra quê? Pra quê tudo isso, né? Já que tudo acaba, tudo vai passar… Isso envergonha a gente como ser humano. Eu mesmo não gosto nem de assistir muito noticiário, porque eu fico bastante chateada, me abala bastante.
EP: Quais são seus maiores medos?
CL: Se eu tiver medo, sempre coloco nas mãos de Deus, porque Ele sabe de todas as coisas. A gente, ser humano, tá meio que incapacitado em certas coisas, infelizmente já tá vulnerável, né? Mas a gente quando coloco nas mãos de Deus eu acredito que o melhor pode ser feito. Um medo que tenho, não é que me deixa desesperada, mas assim, é dos meus filhos no mundo de hoje… Eu fico pensando: ‘Como é que vai ser o mundo daqui 10, 20, 30 anos?’ O Gustavo mesmo, como autista, às vezes eu tenho medo assim de ele não ter uma independência, porque ele é inocente. Ele fala tudo, conta tudo que acontece, mas acaba sendo inocente. E a Giovana também, pequenininha, né? Então assim, a gente tem umas incertezas no futuro, mas que só Deus sabe. Eu acho que isso é um medo.
EP: Acreditar em um mundo melhor é uma grande e eterna utopia?
CL: Não acredito (em mundo melhor). O mundo só tende a piorar. O ser humano tende a ser daqui pra pior, infelizmente. Embora seja assim, eu acho que cada um de nós pode buscar o melhor, né? Fazer o melhor pra a gente ter paz.
EP: Qual seria o seu principal conselho às pessoas desesperançosas, que não têm encontrado tanta força/leveza pra seguir em frente?
CL: Olha, tudo nessa vida passa, até essas angústias. Acho que a única forma dessa pessoa ter esperança é ter esperança em Deus mesmo, entregar nas mãos de Deus. É Ele que pode fazer tudo. Ele que é o Senhor das nossas vidas e que dirige, né? Inclusive, direto eu recebo mensagens de pessoas, alguns que estão se recuperando às vezes no hospital, às vezes em fases assim bem chatas mesmo de doença. E assistem aos vídeos e ficam mais tranquilos. Então acho que esse também é um dos meus objetivos. Não tem nada assim melhor do que a pessoa assistir um vídeo e ela tirar alguma coisa boa para ela, nem que seja paz, né? Às vezes até quando se vive uma situação tão ruim e precisa esquecer um pouquinho. Poder passar paz a essa pessoa, isso também é gratificante demais. Mas assim, eu diria às pessoas que procurem mais a Deus. Que busquem ajuda mesmo que às vezes não acreditem, que busquem no fundo do coração delas. Eu acho que Deus pode dar uma resposta, pode ajudar.
EP: Se você tivesse oportunidade e o superpoder de escolher uma vida diferente da sua, faria essa opção?
CL: Eu tô bem tranquila nessa vida que eu tenho, poderia agregar algumas coisas. Por exemplo, eu tive vontade de ir para tantos lugares, viajar, e assim, meio que passou, sabe? Mas um lugar único no mundo que eu queria viajar, era sonho mesmo, tinha esse projeto, era Israel, aí você pode ver agora… Hoje, pra mim, tudo tá bom, eu sou uma pessoa tranquila. Tudo tá no lucro, Deus me deu tudo que preciso, o que me basta. Se eu tivesse um superpoder seria pra ajudar outras pessoas, não pra mim mesmo.
EP: No fim das contas, a vida vale a pena?
CL: Vale, vale muito a pena. Temos vida, podemos transmitir coisas boas às pessoas. A vida vale a pena, se Deus nos deu a vida é porque algum objetivo tem. Então vamos pôr em prática o motivo pra que nós viemos, né? Eu acho que agora que tô mais ou menos me encontrando no meu objetivo, que é entrar em contato com as pessoas, mesmo que muitas vezes não consiga dar atenção a todas.
Acompanhe Cleide por nas redes:
Tá curtindo acompanhar histórias como a da Cleide e do Luciano?
As edições dessa nova seção são enviadas a todos os inscritos na newsletter, assim como a reflexão que publico todos os meses. Apesar de serem gratuitas, você deve imaginar a dedicação envolvida desde a pesquisa, entrevista, escrita e revisão do material.
Se você puder, fortaleça o que tenho entregado aqui se tornando assinante pago da news. Por menos de um real no mês, você contribui demais na produção das edições grátis e ainda recebe uma curadoria exclusiva de conteúdo todos os meses. Ah, seu nome também pode aparecer por aqui, assim como o de uma galera incrível logo ali embaixo…
Caso queira mais rapidez e um incentivo pontual, também pode me fortalecer, no melhor valor ao seu bolso, por meio de pix para esdraspereiratv@gmail.com.
📍😀
Novidades
#1
Criei uma playlist da news no Spotify, com músicas já recomendadas nas edições:
#2
Se gosta das reflexões e da curadoria de conteúdos que trago aqui, saiba que uma das minhas grandes inspirações é a leitura. Também faço algumas mini resenhas de livros no Twitter (recuso a chamar de X).
Então, decidi criar uma lista de desejos na Amazon com algumas obras que gostaria de ler assim que possível. Você pode me presentear aqui, se achar válido.
E mais…
#3
Se estiver pensando em fazer compras durante a Black Friday, use meu link de afiliado! :)
Por hoje é só.
Valeu demais por estar aqui! ❤️
Com base nos critérios de recompensa para assinantes pagos, meu muito obrigado a:
Mariana Maginador, Rafael Vieira, Camila Laister Linares, Bruno Rodrigues, Carol Magnani, Adelane Rodrigues, Rogeria Portilho, Lucas Pereira, Beatriz Souza, Ana Marin e Lucenito.
Até logo! 😘
Bela história! Mostra que não é preciso se vender às tendências do momento para obter sucesso. A Cleide não precisou fazer meia dúzia de dancinhas do Tik Tok; simplesmente mostrou o que é.