
Temos novidade: o texto principal da edição de hoje também está disponível neste áudio, para que você tenha a melhor experiência possível:
Foi a primeira vez que fiz edição de áudio, então espero que gostem apesar do aprendizado estar só começando ❤️
Um amigo fez aniversário nesta semana.
- Meu, parece que a gente pisca o olho e você faz aniversário. Tem gente que faz aniversário umas cinco vezes no ano, é isso?, brinquei com ele antes de desejar todas as coisas boas dessa vida.
Da parte dele, um agradecimento acompanhado de “é que o tempo voa”. E o clássico “vamos combinar algo”.
Quando bati o olho no Facebook recomendando que desse os parabéns, não é brincadeira, não, fiquei meio confuso. Tive uma pensamento bem inconsciente do tipo:
- Será que esse sacana gosta de receber parabéns sempre e coloca várias datas de aniversário? Não é possível.
O tempo, realmente, vem nos aniquilando. O tic-tac é cruel se pararmos bem para reparar.
Consigo me lembrar com clareza do Esdras menino subindo cheio de areia nos bolsos depois de passar a tarde jogando bola descalço no tapete de incontáveis grãos fininhos e amarelinhos. E quando calçava chuteiras de trava para jogar em qualquer mini espaço de grama? A saudade bate…
Me recordo também, agora sem saudade, de quando, por um destino traiçoeiro, quebrei o vidro do salão de festas do prédio dando uma bicuda na manga que caíra do pé. O cúmulo dessa história é que, minutos antes, a mãe dissera que era para subir JÁ (sabe qual é o significado das letras maiúsculas desse jeito, né?).
Eu, teimoso, levei a vida no modo “já vou”. O prejuízo foi dela; a mim, restou o castigo e o choro ao ver como que em câmera lenta o desenhar daquilo trincando.
São tantas histórias daquela época de infância/adolescência...
Até negociei dívida ainda criança, sabia? É que, mesmo na dificuldade, a mãe conseguiu pagar um tempo de escola particular para meus estudos. E me dava um cheque todo mês para pagar a mensalidade na secretaria. Só que uma vez esqueci do acerto…
- Pagou a escola, né?, ela perguntou, enquanto minha pele já branquinha ganhava contornos ainda mais pálidos.
A boca seca, a fraqueza nas pernas, o coçar da cabeça…
- Sabe o que é, mãe, foi tão corrido hoje… (realmente, uma criança labuta tanto 🆘) Esqueci! Hihihi!
O olhar fuzilador de quem teria que pagar uma multa não precisava nem ser casado com palavras. E olha que conhecendo a mãe, praticamente não há braveza numa mulher tão serena e doce. Mas, em época de vacas magras, qualquer real a mais é motivo de caos.
Felizmente, no dia seguinte, apliquei o método carinha de “gatinho do Shrek”, como um amigo costumava brincar, e convenci o pessoal a aceitar o pagamento sem multa na escola. Um exímio pregresso da educação financeira lá pelo auge dos 10 anos, hein?! 😅
Fico pensando: algumas memórias nos marcam, mas quantas outras tão legais também são corroídas pelo tempo?
A cada piscar de olhos, a vida liga a sexta marcha sem piedade. Deixa para trás a irresponsabilidade de criança/adolescente para acender a luz da necessidade do ganha pão, do tão almejado sucesso, da prosperidade, das lutas e dissabores diários.
Nesta semana, também há outro marco: faz um ano que um amigo jornalista, jovem, dos mais queridos, nos deixou, à margem da falta de vacinas. Eram só 30 anos e muitos ainda por vir.
A nostalgia bate. Jomar sabia preencher boa parte do tempo com sorrisos. Aliás, deveria ser quase que uma recomendação se tivéssemos uma bula cerebral: sorria mais, o máximo que puder. Não é sobre positividade tóxica, é sobre entender que o reluzir dos dentes garante mais paz à vida.
Sei que ele está em paz, olhando por nós. E que, de algum lugar, sorri por nós que o queremos bem.
Não nego. Às vezes, confesso que penso: quantas histórias a interrupção precoce do tempo tirou da vida dele? Não sei, o tempo é místico. Vão-se os de 30, ficam os de 100. O tempo é ilógico e talvez por isso seja o responsável por abrilhantar a vida. Nossa jornada, no tempo disposto, não tem obrigação de vir acompanhada de data e horário de abertura e fechamento das cortinas.
Cabe a nós desfrutar, como bem disse a jornalista e repórter Renata Capucci depois de um diagnóstico precoce de Parkinson, aos 45 anos. "
“Nada mudou na minha vida. Minto, uma coisa mudou: a urgência de viver e de ser feliz. Hoje tenho a certeza de que as coisas acontecem independentemente de você querer ou achar que pode controlar. Você não sabe como vai estar amanhã, daqui um mês, seis meses, um ano. Nem eu, nem ninguém. E essa é a maior verdade, a gente não tem joystick e não manda em absolutamente nada.”
Nos últimos dias, também acompanhei um TED Talk da escritora norte-americana Anne Lamott. Ela listou 12 coisas que tinha certeza absoluta sobre a vida antes de completar 61 anos. A última diz respeito à morte:
É muito difícil suportar a perda das pessoas sem as quais não vivemos. Nunca nos recuperaremos dessas perdas, não importa o que a cultura disser. Nós, cristãos, costumamos pensar na morte como uma grande mudança de endereço. Mas, em todo caso, a pessoa viverá em nosso coração se não o fecharmos. Como disse Leonard Cohen: 'Há fissuras em tudo, e é assim que a luz entra'. É assim que sentimos nossos entes queridos vivos. Essas pessoas também vão nos fazer dar risadas nas horas mais inconvenientes e essas são as grandes notícias. Mas a ausência também será um pesadelo de saudades. Luto, amigos, o tempo e as lágrimas vão ajudar a nos curar até certo ponto. As lágrimas vão banhar, batizar, hidratar e amaciar a nós e o chão onde caminhamos. Sabem qual foi a primeira coisa que Deus disse a Moisés? 'Continuem com suas vidas. Quase todas as mortes são fáceis e suaves, com as melhores pessoas ao seu redor. Não vão ficar sozinhos. Elas vão nos ajudar a atravessar para o que quer que nos aguarde’. Como Ram Dass disse: 'Quando tudo tiver sido dito e feito, estaremos apenas acompanhando uns aos outros para casa'.
É, talvez tenhamos chegado, juntos, a uma resposta para a pergunta do título. Talvez o tempo voe para entendermos a necessidade de desfrutarmos mais dele, com coerência e intensidade.
Vale até quebrar uns vidros com chutes fortes em mangas por aí. Antes, disse que não tinha saudade. Agora, até tenho.
Sacrifícios - Se o tempo é imprevisível, saibamos discernir melhor o que vale a pena em termos de sofrimento. Um vídeo baseado em uma lição de Jordan Peterson é uma aventura importante ao entendimento de que sacrifícios são intrínsecos à nossa vida, mas há possibilidade de melhor “escolhê-los”. Uma aula com direito a ótimas ilustrações.
Experiências peculiares - Para aliviar um pouco… Sendo um contador de histórias, não posso negar que adoro o programa “Que história é essa, Porchat?”. Dia desses acompanhei o episódio com Giovana Ewbank, Chico César e David Brasil. Dei risada demais da conta. Não encontrei o programa completo sem ser no Globoplay, mas o trecho da Giovana, um dos mais engraçados, está num corte no Youtube. Imagina só ir parar “sem querer” em uma clínica de massagem tântrica?! 🤭🤐
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Casas vazias - Brenda Navarro
O romance da escritora mexicana é extremamente contemporâneo, circundado por violência, perturbador. Uma mãe, alguém que vira mãe, um desaparecimento, tudo amarrado. Prepare o coração, o estômago e tudo mais. Leitura altamente recomendada.
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De Américo Brasiliense para o mundão e, agora, dando entrevista no PodPah [Jão, sou seu fã, venha ler minha news, nunca te pedi nada]
Você se lembra daquele buxixo envolvendo Patati e Patatá falsos na Bahêa? [fato: com suas narrativas, Chico Felitti é patrimônio histórico e imaterial deste País ]
Google e Instituto Gilberto Gil criaram um projeto lindo em homenagem aos 80 anos desse grande ícone da música brasileira [quem não gosta de Gil, bom sujeito não é]
Enquanto faço o verso, tu decerto vives
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempoContempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te falaO ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETAE isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto. (Hilda Hist - Poemas aos homens do nosso tempo)
*Declamei esse poema no Insta*
Obrigado por estar aqui comigo! 🤟
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Lucas Pereira, Mariana Maginador, Rafael Vieira, Camila Laister Linares, Bruno Rodrigues, Basílio Magno, Fátima Castanho, Lauro Medeiros, Rose Ferregutti e Mikaella Narriman❤️
Uma musiquinha gostosa para encerrar os trabalhos:
Adorei a versão em áudio da news! Tá mandando bem demais, Esdras. Vou tentar me inspirar em você.