Lembro até hoje da maior casa que já vivi. Era uma criança abaixo dos seis anos, não sei ao certo a idade. O lugar tinha banheira e isso impacta qualquer pedacinho de gente. É como se tivesse um mar para mergulhar os brinquedos dentro do próprio lar.
É curioso como, de fato, bens materiais realmente trazem felicidade, ao passo que ela pode ser das mais passageiras. Até então, ali morava uma família próspera, descendente de comerciais de margarina. Um pouco do que parecia tudo ruiria anos adiante. O pai não quis mais a mãe. O pai deu nas costas da mãe. Escolheu a vida de bon vivant em detrimento à vida de crescimento familiar.
Comentário sobre a ruína do laço mãe-pai à parte, o objetivo das palavras, hoje, não é este. É mais para lembrar quanto somos singelos e práticos enquanto crianças.
Me recordo do dia em que larguei a chupeta. Fiz a promessa à mãe, ela me prometeu algo em troca e oba, temos um acordo. Depois de selado, corta para a mãe arremessando a chupeta no terreno baldio ao lado, tomado por um matagal. Um adeus rápido e rasteiro.
Veio a primeira madrugada:
Mãe, será que podemos ir lá buscar a chupeta?, pergunta um mini-eu às lágrimas.
A praticidade infantil é bela. Os primeiros ‘nãos’ que recebemos na vida, nem tanto assim.
Outra lembrança de infância é o meu cobertorzinho favorito. Amarelo, preto e com alguns tons de marrom.
E se te disser que ele está comigo até hoje?
É esse aí, da foto acima. Mesmo após tantas mudanças, continua no meu guarda-roupa, bem preservado. Na última friaca, bem serviu para esquentar as pernas. Afinal, a criança deu vez a 1,74m, uma proporcionalidade que não fecha.
O cobertorzinho era como um melhor amigo dentro de casa. Inseparável. Eu gostava muito de pegar a mamadeira com a mão esquerda e encaixar meus dedos indicador e do meio na parte mais lisinha dele, como quem tocava um violino quentinho antes de pegar no sono.
Uma vez, a mãe lavou o “tôzinho”, como eu costumava chamar. A madrugada chegou mais uma vez. Passos lentos, quietinho, fui ao varal. Ele ainda ensopa, mas, crianças não se separam tão facilmente de seus melhores amigos.
No dia seguinte, quem acordou mais ensopado, eu ou “tôzinho”?
A casa grande era bela. Tinha a mãe, o pai e o “tôzinho”. Não quero reclamar da vida: agora, segue tendo a mãe e, se quiser, o meu amigão da infância ainda não se separou de mim.
E o pai? Ah… Esse me fez de chupeta. Me jogou num terreno baldio escuro, cheio de mato. A madrugada chegou inúmeras vezes, talvez até tenha pensado em me buscar de volta. Mas ainda não aconteceu.
Perda jornalística - Na última semana, morreu David Coimbra, aos 60 anos, um grande jornalista do Sul do Brasil. Confesso que conheci pouco do trabalho do David em vida, o que é uma pena. Ao acompanhar notícias sobre seu falecimento após uma batalha de década contra um câncer, pude conhecer mais. Uma das homenagens foi feita pela GZH, com um caderno digital reunindo 100 crônicas dele, um deleite.
Microfascismo - Um dos canais que mais gosto de acompanhar no Youtube é o ‘Normose’. Em um de seus vídeos mais recentes, ele fala do conceito de “microfascismo”, que pode estar presente até dentro de nós e sequer sabemos. Menos de 20 minutos de um conteúdo importante, extremamente válido.
Bora ganhar R$ 500 mil? - A vida não anda fácil para quase ninguém. Inflação nas alturas, perda cada vez mais forte do poder de compra, desemprego… Mas, tem gente por aí que vem remando contra essa maré brava, viu. A ex-frentista Natasha Steffens sorri à toa (y otras cositas más em frente às câmeras) e, em dois anos, faturou o equivalente a R$ 500 mil no tal do OnlyFans. É, meus amigos, o culto aos corpos parece ser das poucas atividades realmente rentáveis nesse mundão. Eu que lute e, com a escrita, é pouco provável que chegue perto de R$ 500 mil. Nobody said it was easy, né não?!
O robô além do bosque - O meu amigo Maicon Moura também tá lutando nesse mundão de escritores. Sabe da batalha que é e, mesmo assim, segue na resistência. E como parte desse “suor do universo das palavras”, lançou algo muito legal. Um livro em newsletter. Sim, a cada semana, sai um capítulo. Li o primeiro e já fiquei instigado para acompanhar as próximas aventuras de ‘O robô além do bosque’. Confira você também!
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Sociedade do Cansaço
Leitura que, se pudesse, colocaria como obrigatória inclusive nas escolas, no ensino básico atual. Os adolescentes, pelo menos, já precisam entender o que vem pela frente de uma maneira mais clara. Byung-Chul Han rasga o verbo sobre o mundo capitalista que vivemos e, por consequência, no transforma no título do livro. Está entre meus livros favoritos deste 2022.
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Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo. (Adélia Prado - Impressionista)
Aliás, gosto muito da participação de Adélia neste programa, em 2008:
Por hoje é só, meu amigo, minha amiga. Obrigado por estar aqui comigo ❤️