
Oi, tudo bem?
Por algum motivo, algo não tão facilmente compreensível vem me dizendo há algum tempo que eu preciso ter um canal mais “próximo” com quem me acompanha.
E, quem me conhece um pouco, sabe o quanto a escrita é parte da minha vida. A fagulha que vinha pedindo passagem me contou algo, principalmente após a última atualização do Instagram (bem desfavorável a quem gosta de textos mais longos).
O recado foi: crie uma newsletter.
Estudei, consumi algumas, li muito sobre. Pensei. E decidi: não tenho uma ideia 100% pronta. E daí? Por que não começar? Quantas vezes adiamos planos por obstinação ao perfeccionismo? Milhares.
Decidi executar e, quantas vezes for preciso, trocar os pneus com o carro da news em movimento. O nome ‘Vida Vivida', a quem não sabe, vem do meu primeiro livro publicado.
Aqui, basicamente, a intenção é valorizar mais o cotidiano, refletir e também trazer uma curadoria de conteúdos que cruzam meu caminho de vida e merecem ser passados adiante.
Um passeio no meu olhar
O primeiro texto da news é um convite. Vamos, você vai passear um pouquinho comigo.
Visto uma polo preta, shorts, meia preta de cano alto, um tênis de corrida. Uma quinta-feira para caminhar cedinho. Andar de polo sob o sol pode parecer desinteligência, mas é só otimização da camisa limpa usada na noite anterior. Quem nunca? 👀😅
Decido que será uma caminhada diferente, sem checar o celular, sem fones de ouvido. Quando nos permitimos enxergar os arredores de nossos muros? Nossas muralhas digitais, hoje, nos fazem olhar muito mais para baixo do que para frente, horizontalmente.
Será que nossos pescoços sobreviverão?
Primeiros passos e olhares que escancaram flores e plantas meio secas no outono até rigoroso.
Olha ali, a senhorinha de blusa azul surrada, na sacada, dá o primeiro trago do dia no cigarro que não sei se é daqueles bem vagabundos.
Se bem que, depois de matar minha avó, penso que qualquer cigarro é nojento. É bem verdade que a culpa é de quem traga, não o contrário. Perdão, cigarros: vocês não matam, são as pessoas que se matam com vocês.
Mas quem sou eu para julgar se a senhorinha traga e sorri, traga e sorri. Um sorriso que parece contar que há muita felicidade naquela vida. E que ainda que opte pelo caminho mortal, este é digno de prazer. Escolhas.
No continuar do passeio, dois vendedores, de companhias telefônicas, conversam para chegar à conclusão sobre qual deles é o mais explorado atualmente.
Não usar fones de ouvido apura nossas anteninhas auditivas humanas. Às vezes parece até que estou com a cabeça dentro dos motores, dos escapamentos, das engrenagens dos guindastes que verticalizam a cidade.
Opa, um menino branco lá, feito eu. Gostei de sua camiseta, dizendo “escute rap nacional”. Progresso?
Passo ao lado do estacionamento do estande de uma construtora. Ora, ora, vagas para carregar carros elétricos. Quem carrega carro elétrico neste país em que daqui a pouco a inflação vai até cobrar de quem anda a pé?
Ops, por um instante me esqueci da seletividade tributária, hehe.
Espirro, espirro e espirro de novo. Se as coisas não estivessem um pouco melhores, estaria constrangido pela rua.
Olhei para cima. Um avião no céu: quanto combustível ele ainda tem, para onde está indo?
Os olhos baixam e veem que no solo seguimos sem direção.
O homem buzina para a moça com roupa de academia no outro lado da rua. Ele quase salta do banco do motorista para devorá-la com os olhos. Ela pode ter sido minimamente salva do constrangimento pelo par de fones grandes no ouvido. Qual música será que ouvia?
Um moço bem vestido, barba bem alinhada, boa pinta, passa por mim. Bota reparo nas unhas com atenção. Com quem será que vai se encontrar para toda essa preocupação peculiar?
A mulher dos fones grandes passa por um ponto de ônibus. Lá, dois senhores de fios brancos nos cabelos. Eles se entreolham depois de notá-la e sorriem por debaixo das máscaras que não escondem o canibalismo internalizado em cada um.
Meus pés, agora, ladeiam uma rodovia. Quantas histórias passaram por aqui? E quantas já se interromperam aqui?
A vitamina do sol arrebata a polo preta. Lá no fundo, os raios me iluminam com trilha sonora. Do nada, mesmo sem fones, minha cabeça começa a tocar “a-cor-da, Pedrinho”. Aleatoriedades.
De repente, cessa minha vontade de observar tudo. O pé esquerdo se alinha ao direito e decide parar. Me lembro do que vi logo cedo, um vídeo de um camburão de viatura policial transformado em câmara de gás.
A imagem reacende e faz a caminhada perder um pouco de sentido.
Pois caminhar individualmente, sem grandes perigos, é se esquecer de outras facetas do Brasil. Quando foi que adoecemos tanto? Quando foi que nos tornamos um país de barbáries não ficcionais?
Paro e penso: talvez haja razão mesmo para as pessoas não olharem tanto para o horizonte. Ativar o modo zumbi, olhando para baixo, pode ser rota de fuga, de desafogo às tristezas irremediáveis bem diante de nossos olhos.
Vou voltando… Na mesma sacada da senhorinha de blusa azul surrada, agora um senhorzinho de polo branca, aproveitando o resquício do sol da manhã. Também parece feliz.
Já sei. Enquanto a gente tenta sobreviver ao caos, será que eles me convidam para conhecer a sacada da felicidade por alguns minutos?
Crime e Castigo - Podcast da Rádio Novelo que traz, a partir da discussão de vários crimes, conceitos diferentes de “justiça”. Um estímulo à reflexão, sobretudo em tempos tão difíceis.
O Caderno de Tomy - Disponível na Netflix, mais uma boa pedida do cinema argentino, que não costuma falhar. Prepare o lencinho para conhecer a história de uma mãe com câncer terminal que deixa várias reflexões e ensinamentos ao filho. Escritos singelos em páginas de um caderno emocionante.
Pantanal - Arrrrrrra! Não poderia chegar na minha primeira news sem recomendar meu maior vício de momento. Venha ser do time pantaneiro também, venha ter réiva e faça parte dos discípulos do véi do rio :)
Nesta seção, vou deixar indicações que, se você decidir adquirir pelo link daqui, pode ser que me ajude com um percentual de afiliado. Isso não quer dizer que a recomendação seja aleatória, só com intenção de receber por isso. Vou indicar apenas o que realmente curti, ou soube que vale a pena por meio de alguém que confio. Mas, ganhar um dindin não faz mal a ninguém, né?
A mulher na cabine 10
Fiquei em choque com esse livro. Uma ficção maravilhosa. E tô bem pendente a dizer que foi a melhor leitura que fiz em 2022. Um suspense dos mais eletrizantes. No dia que terminei, fiquei vidrado duas horas nele até que chegasse à última página. Vai dando uma palpitação, adrenalina. Doidera!
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A princípio, quero que essa seção seja a última da news. Aí, você sai leve para sextar e aproveitar o fim de semana.
Vou escolher poesia em forma de música hoje, já que ouvi muita Bethânia durante a semana.
Há canções e há momentos
Que eu não sei como explicar
Em que a voz é um instrumento
Que eu não posso controlar
Ela vai ao infinito
Ela amarra a todos nós
E é um só sentimento
Na platéia e na voz (Canções e Momentos - Maria Bethânia)
Por hoje é só :)