#41 - Vida Vivida [telas e ode à produtividade]
Essa edição tem apoio do Espaço Humanamente
Leia a edição anterior: [dentes de leão]
Durante todo o mês de março, a news conta com apoio do Espaço Humanamente, de Sorocaba, espalhando a importância de um olhar cuidadoso à saúde mental.
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Encosto ao lado da mesa de um amigo do trabalho. Começamos uma conversa, uma boa troca de ideias entre jornalistas curiosos e que gostam de uma história intrigante de bastidores políticos, por exemplo.
De repente, com pouco mais de dois minutos de papo, o amigo simplesmente gira a cabeça e volta os olhos para o computador sem nem dizer tchau, rs. Enquanto isso, continuo falando por alguns segundos como se apresentasse um trabalho universitário a uma sala vazia. Em seguida, entendo que era o fim daquela troca.
A ânsia por telas, a produtividade, às vezes a falta de paciência para uma conversa mais longa… Tudo isso explica muito sobre o que temos vivido: aparentemente, até alguns minutos de olho no olho têm sido extenuantes a muita gente. Sei que, no trabalho, às vezes há demandas bem urgentes. A situação relatada, porém, não carregava esse contexto.
Na terapia desta semana, eu e minha psicóloga (que inclusive você vai conhecer nesta edição) dizíamos justamente sobre a falta de paciência das pessoas para mergulhos mais profundos. “50 minutos de sessão, para alguns, sem poder olhar o celular, pode ser muito difícil”, comentava a Ana.
Acredito que a tiktokzação (ou reelslidade, como preferir) da vida realmente tem colocado limites cada vez mais rasos sobre quanto um bocado de gente suporta entregar a tão preciosa atenção, o tão precioso tempo a algo/alguém.
Curiosamente, dia desses, fiz uma reflexão de uns três minutos, em vídeo, e postei no Instagram — normalmente, acabo chegando perto dos 10 minutos ou até passo nessas minhas linhas de pensamento faladas. Uma pessoa comentou que “sejam longas ou curtinhas, suas reflexões acolhem”. Fiquei feliz com o elogio, mas também reflexivo com os nossos conceitos de curto e longo.
E não me isento dessa crítica, viu, pois em vários momentos me pego zapeando por uma Netflix da vida na tentativa de escolher um filme legal. Até que um título e um trailer me chamam a atenção. Olho com mais clareza. Duração: 2h30. “Ah, melhor não, muito tempo”. Percebe?
O que anda acontecendo com nossas vidas? Será que sobreviveremos a esse caos todo? Ou melhor, será que continuaremos cultuando esse caos?!
Porque, se chegamos aqui, também temos culpa no cartório, principalmente por nossa ode à produtividade, às telas. Essa semana, por exemplo, vi uma colega de profissão na rede dos bem-sucedidos postando várias reportagens que havia feito, com o seguinte comentário: “sou um pouquinho viciada em trabalho” (mil risos).
Ou seja, um atestado comprovado de que muitos fazem uma leitura de que a vida se resume a ser workaholic. O problema é que carregar esse título é se aproximar de um outro termo estrangeiro: burnout, conhece?! Acredito que sim.
Tenho lido, em doses homeopáticas, o livro ‘Não Aguento Mais Não Aguentar Mais: como os millenials se tornaram a geração do burnout’, de Anne Helen Petersen. O seguinte trecho me pegou bastante:
“O que explica nossos ‘passos preferenciais’ para alcançar o sucesso da classe média: alimentar seu currículo, entrar na faculdade, alimentar seu currículo, fazer conexões no LinkedIn, alimentar seu currículo, suportar um terrível trabalho mal-pago pelo qual você deveria ser grato, alimentar seu currículo, trabalhar muito, e enfim, um dia, acabar encontrando o emprego perfeito, estável, gratificante e bem-pago que vai lhe garantir seu lugar na classe média.”
Sim, precisamos pagar boletos (uma razão atribuída à produtividade). Sim, precisamos nos distrair e relaxar (uma razão atribuída ao uso massivo das redes sociais).
Mas vejo que, cada vez mais, milhões de pessoas têm resumido suas vidas dessa forma. E, infelizmente, seguir assim, me parece como alcançar dois remos, um barquinho e seguir numa espécie de hipnose em direção a um colapso (mental, físico e espiritual).
“O professor da Universidade Stanford Jeffrey Pfeffer, por exemplo, explica em seu livro Morrendo por um salário, que o emprego leva à morte 120 000 pessoas por ano nos Estados Unidos. E a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que trabalhar 55 horas ou mais por semana aumenta o risco de morte”, destacava reportagem de Você RH, da Abril, publicada em agosto de 2021.
Eu espero, mesmo aos 28 anos, encontrar caminhos que me permitam desacelerar com mais frequência. E, embora seja difícil reunir esperanças, que o mercado de trabalho colabore para que as pessoas tenham mais qualidade de vida.
É tão difícil entender que “pessoas leves” vão ser capazes de entregar com mais qualidade? O problema é que, via de regra, os objetivos de uma sociedade capitalista giram bem mais em torno de quantidade do que qualidade. Bom seria se pudéssemos pensar assim:
🧭 Espaço Humanamente
Você já imaginou se submeter a um teste online, com algumas perguntas, e em cerca de 15 minutos “descobrir” que está com depressão? Pois é… Isso já acontece. Se por um lado as redes sociais vieram para ampliar nossas formas de comunicação e trazer benefícios, de outro elas também são perigosíssimas.
Quando o assunto é saúde mental, é fundamental que as pessoas usem suas contas para discutir e trazer o tema à tona. Mas é claro, desde que haja extrema responsabilidade. Em entrevista à revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, no fim de junho de 2022, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, lembrou que “assim como o autodiagnóstico e automedicação, os testes online geram riscos para o paciente”.
Psicólogas do Espaço Humanamente têm percebido um aumento na demanda de pessoas que buscam terapia depois desses diagnósticos feitos em redes sociais. E, claro, precisam desmistificar muitas questões quando isso acontece. Ouça o que dizem as psicólogas Ana Maria Pivetta e Jaqueline Pereira a respeito desse assunto:
#ParaVer 📺 🎬
Havia um bom tempo que não assistia comédias românticas. Essa veio em boa hora, para relaxar e acompanhar uma história gostosinha.
#ParaOuvir 🎧
Volto a indicar um episódio do Mano a Mano, desta vez com Gregorio Duvivier. O multitalentoso artista é um, digamos, playboy com consciência de classe. Há vários pontos interessantíssimos ao longo da conversa. Um dos trechos mais reflexivos acontece quando o Brown pergunta a ele se é possível que um presidente governe para todos. A resposta de Duvivier é sagaz e inteligente — no spoilers aqui.
#NewsIndicaNews 📑
Já indiquei ele aqui uma vez, mas o Edu (
) merece novamente, não tem jeito. Esse projeto dele é das coisas mais lindas e genuínas que pude ver nos últimos tempos. Prometo que vai aquecer seu coração!Verdades nada inconvenientes:
E mais…
Altas emoções
A Raquel adorável tá enorme — lembra dela?
TV ao vivo é implacável…
Pessoas criativas: amamos
Já sabe como termina, né? 🎵🎙️
Mais uma news que se vai…
Com base nos critérios de recompensa do financiamento coletivo mensal, meu agradecimento especial a:
Mariana Maginador, Rafael Vieira, Camila Laister Linares, Bruno Rodrigues, Carol Magnani, Adelane Rodrigues, Rogeria Portilho, Lucas Pereira, Welliton Nascimento e Beatriz Souza.
Um pedido: independentemente de religião/crenças, peço que envie boas energias para o lado de cá. Estamos precisando! 🙏
Até semana que vem! 😘
Obrigado mais uma vez pela citação, meu caro! E sigo também por aqui nessa briga insana entre acelerar e desacelerar, mas quando me lembro onde quero chegar percebo que as escolhas, que são difíceis, vão tornando as coisas um pouco mais fáceis. Abração! :)