Antes de começar a news, uma troca de ideias com os universitários... O episódio de hoje vai sem áudio acompanhando, pois percebi que houve uma redução considerável no número de reproduções nas últimas semanas. Portanto, gostaria de saber, até pelo trabalho a mais que é preparar o conteúdo em áudio:
Considero sempre importante ir construindo a news de uma maneira que seja agradável à maioria que gosta de acompanhá-la. Por isso, o seu feedback é costumeiramente fundamental.
publicado originalmente em 18 de maio de 2022; agora com adaptações
O sol se abriu.
Meus dedos tomaram coragem de sair das luvas que quase nem sei de onde surgiram. Quando foi que as comprei? Ou será que recebi de presente? Tirei o acessório, assim como a touquinha que cobria a cabeça. Li uma crônica vinda por e-mail e é engraçado como esse gênero textual é uma fagulha.
Leia crônicas e terá vontade de escrever. Ou será que agora estou sendo clubista?
Ser brasileiro, de uns tempos pra cá, é um prato cheio para escritores melancólicos. Ser brasileiro é ter oportunidade de compactuar com um tipo de negacionismo. Calma. Explico: eu NEGO que seja um orgulho ostentar esse “título”. Se éramos campeões por sermos brasileiros, de anos atrás em diante, veio o "rebaixamento".
Odiei ser brasileiro hoje, quando soube que Seu Jorge sofreu racismo. Se ele passa por esse crime, mal podemos imaginar quantos outros milhões também o encaram em nossas terras.
Odiei ser brasileiro hoje, quando vi na TV que a palavra tomate estava seguida por “vilão”.
Odiei ser brasileiro hoje, quando percebi cada vez mais a quantidade de gente ruim e sem noção que compartilha notícias falsas propositalmente ou sem qualquer responsabilidade em checar veracidade.
Odiei ser brasileiro hoje, quando notei que pessoas estão se matando dia sim, dia também alucinadamente. Violência acima de tudo, aniquilação acima de todos.
Odiei ser brasileiro hoje, quando ouvi logo cedo que o combate às drogas é “transformado”, de certa maneira.
A transformação acontece porque drogas são traduzidas em gente, e gente é combatida por carregar o vício. Gente morre, não só pelo dano biológico do vício, mas pela desumanidade de quem não aceita tal vulnerabilidade em forma de adicção.
É tão rápido eliminar “problemas”. Uma bala que sai do cano de uma arma de um policial militar é mais veloz do que uma solução. Logo de alguém que tanto é desvalorizado e que, por ironia do destino, também passa a maior parte de seus dias na rua, ainda que de outra forma.
Odiei ser brasileiro hoje, ao saber que uma pessoa em situação de rua morreu depois de uma noite congelante em São Paulo.
Odiei ser brasileiro hoje, porque escrevo isso ao lado da xícara de café que acabo de tomar para esquentar o peito, debaixo de uma coberta, num apartamento gelado, mas que não se compara ao congelar do asfalto e das calçadas.
Odiei ser brasileiro hoje, porque minha mente desenhou a imagem de uma família que vejo, vez ou outra, ao voltar da academia frequentada por bacanas. Um pai, provavelmente; uma mãe; duas crianças. Ao lado, desfocado pelo vaivém de carros populares ou de luxo, um carrinho de recicláveis.
Sempre tive curiosidade de saber a história deles. Sei que um dia ainda haverá tempo de descobrir. Espero que se a coragem vier, eu possa perguntá-los se passaram frio numa tarde de 18 de maio. E independentemente da resposta, quero contar bem baixinho, àquele homem e àquela mulher, que naquele dia eu odiei ser brasileiro.
Às crianças, não vou dizer isso, pois pode ser que não me entendam. Afinal, como alguém com alguns privilégios odiou ser brasileiro?, enquanto eles se divertem tanto com garrafas pets e algumas sacolas do carrinho de recicláveis.
Passo os dedos na persiana, já é quase noite. A bons metros do vidro, a vizinha, numa casa, de frente ao computador, toda agasalhada.
Fico pensando: será que hoje ela também odiou ser brasileira?
Saudades do que a gente já viveu - Terminei de ver nesta semana o doc do Penta da Seleção Brasileira, na Netflix. Emocionante demais. Mas o que me pega, acima de tudo, é a nostalgia de ver um país bem mais unido, mesmo que em prol de um período/evento. Saudade de quando éramos fraternos. Ou pelo menos com o ódio deixado bem mais em segundo plano. Se ainda não assistiu, liga no trailer:
Ressignificação do sofrimento - Descobri, por acaso, o podcast lançado em 2020 pelo pastor Henrique Vieira. O projeto, aparentemente, foi descontinuado, mas deixou bons diamantes, como o primeiro episódio:
Topologia da Violência - Byung Chul Han
Obra densa, mais complexa que 'Sociedade do Cansaço', também do autor. Tem bons pontos, apesar de ser repetitivo em alguns trechos pra reforçar os conceitos de 'Sociedade do Desempenho' e 'Violência da Positividade'. Mas, sou suspeito, pois Han tem meu coração.


Sonza foi visionária em seu hit mais recente
Os vídeos dele são tudo pra mim
Buxixo no xadrez, ladies n gentlemen
Tua sina assina teu destino
Mas não busques apressar sua viagem (Elif Shafak, em A ilha das árvores perdidas)
Encerrando hoje nos embalos de um som chiclete, gostosinho 🎵🎙️
Thamyres é uma artista de Sorocaba, cidade que moro no interior de SP. Conheci durante minhas andanças como repórter, operário nas ruas, e foi um baita presente. Confiram o trabalho dela, um grande talento. E não se esqueçam: fortaleçam os artistas locais dos lugares que você habita.
Talvez você não imagine, mas produção da news é bem trabalhosa. Entre escrever, organizar, editar, fazer a curadoria de conteúdo e gravar a versão em áudio, tudo pode levar entre 4 e 6 horas de dedicação. Portanto, se você gosta e considera um projeto interessante, te peço uma ajuda especial: um apoio financeiro mensal à news. Se você puder contribuir com o financiamento coletivo, qualquer quantia é bem-vinda.
Se gosta do meu trabalho, você também pode fazer um apoio pontual e único ao projeto, no melhor valor, aquele que cabe no seu orçamento, por meio do pix para esdraspereiratv@gmail.com.
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