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Vários elementos me levaram ao tema do primeiro texto da news neste ano. A princípio, todos pareciam fios soltos, mas, quando meio inconscientemente se conectaram, foi como o que Rubem Alves dizia sobre inspiração: acontece como um pássaro que pousa sobre nosso ombro.
A ave da inspiração pousou em mim e pediu: escreva sobre silêncios. Essa é uma reflexão que poderia nos levar a muitos lugares. No entanto, a abordagem será mais palpável, sobre nossa capacidade de silenciar a vida em alguns momentos. O silêncio mesmo, sem barulho, sem movimento, sem ação, sem produtividade.
Quantos de nós, de fato, somos capazes de silenciar? Se até os sonhos parecem cada vez mais vorazes e turbulentos, o que dirão os períodos de olhos abertos…
Na introdução da música Dejavú, o Froid diz o seguinte:
“Tu exercita o silêncio, eu tô lendo um livro que o nome é ‘As 7 Leis Espirituais do Sucesso’, e uma das... Acho que a terceira lei é a lei do silêncio, tá ligado? Fala pra tu exercitar o silêncio, tu começar a exercitar o silêncio por uma hora. Tipo, não falar nada e não ouvir nada, tipo música, televisão, nada, tá ligado? Tipo uma hora, depois tu pratica por duas horas, depois tu pratica por seis, daqui a pouco, tipo, tu pratica por um ano, tá ligado. Dizem que o Nietzsche ficou os 10 últimos anos da vida em silêncio, sem falar nada, tá ligado? Saca, tu exercita o silêncio, porque exercitando o silêncio o cara entra na meditação.”
Claro, a partir dessa fala, fiquei curioso por essa história do filósofo alemão ter permanecido nada menos do que 10 anos em silêncio. E pesquisei com afinco para ver se era verídica, mas confesso que não encontrei nenhum documento/texto tão transparente a esse respeito. O mais próximo disso é uma reportagem do site Aventuras na História, do Uol, que descreve uma possível causa ao silêncio profundo de Nietzsche, iniciado depois de um episódio ocorrido em 1889, em Turim, na Itália.
“Numa ocasião, quando andava em direção ao centro da cidade, ele se deparou com um cocheiro maltratando seu cavalo, chicoteando-o cruelmente. A cena teria atingido profundamente Nietzsche, que impediu o ato e abraçou o cavalo, debulhando-se em lágrimas. Testemunhas declararam que, no momento do choro, Nietzsche murmurou palavras de difícil entendimento, no ouvido do cavalo. Depois desse caso, nunca mais foi o mesmo, caindo numa espiral de destruição pessoal. Suas últimas palavras foram ‘Mãe, eu sou um idiota’, uma década antes de sua morte. Isso porque evento na Itália levou sua mente ao colapso. Nietzsche passou 10 anos em silêncio profundo.”
É evidente que silenciar por anos a fio parece uma grande utopia nos nossos tempos. Mas admito que seria uma grande conquista conseguir alcançar mais momentos de silêncio na vida — concorda?
Isso porque sinto que mal temos a capacidade de fechar os olhos… Ou de olhar para o teto sem grandes pensamentos, sem a necessidade de checar as novidades do feed da rede social, sem a obrigação de tomar grandes decisões, sem o objetivo de definir como ganharemos mais dinheiro ou seremos melhor sucedidos profissionalmente.
A leitura de ‘Sociedade do Cansaço’, de Byung Chul-Han, nunca me parece repetitiva. Pelo contrário, é sempre importante revisitá-la.
“Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto. Assim, pertence às correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo”, escreve o coreano no livro, entre outras tantas ótimas reflexões.
O tema é tão complexo que, buscando puxar pela memória, não consigo me lembrar da última vez em que me permiti essa tentativa de esvaziar a mente. Talvez tenha sido no período em que vinha me esforçando mais para meditar com uma certa constância, algo que não tive disciplina para manter.
Aliás, tenho a impressão cada vez mais clara que entendemos o silêncio como tédio. E numa sociedade em que tudo está à palma da mão, viver o tédio, o ócio, parece algo letal. Afinal, o culto à produtividade é cool, é pop, não é mesmo?! Inclusive, Étienne de La Boétie, em ‘Discurso da Servidão Voluntária’, escreve uma passagem bastante adequada — e, pasme, o livro é de 1563…
“Um povo se escraviza, corta sua própria garganta, quando, tendo a escolha entre ser vassalo e ser homem livre, deserta suas liberdades e assume o jugo, dá consentimento a sua própria miséria, ou melhor, aparentemente a acolhe.”
Como citei inicialmente, esse texto é uma construção nascida de vários elementos que me atravessaram. À parte às composições mais filosóficas, também me deparei com um traço poético sobre o silêncio, deixado por alguém por quem tenho me encantado demais e até já recomendei por aqui, na última edição de 2022.
“Neste mundo hoje onde tudo faz barulho, a toda hora, o silêncio é a maior benção possível. Hoje em dia eu acho que, muitas vezes, o silêncio tem que ser escolhido, porque se a gente deixar, são dias, e dias, e dias, e horas sem ele. Ele não vem nem de noite. E nem digo só nas cidades… Na cabeça da gente. Tanta informação. Mas, sem silêncio, não há trabalho, não há aquele momento em que você para e olha de verdade. As pessoas têm medo do silêncio, eu própria posso ter medo do silêncio, como a gente às vezes tem medo de olhar no espelho. O espelho é o maior dos silêncios, sou eu e eu, e agora?”, reflete a poeta portuguesa Matilde Campilho, sequenciada por uma pausa silenciosa.
E devo revelar, querido leitor(a), é impressionante como um tema é capaz de te rondar se você passa a desenvolvê-lo. Quando me sentia pronto para encerrar esse texto, olhei ao marca-páginas do segundo livro de 2023 e observei um recado:
Neste ano, portanto, quero exercer melhor essa sabedoria. E, claro, ter mais contato com o meu próprio espelho, assumindo melhor o silêncio que, embora dificílimo, aparenta ser tão necessário.
E aí, gostou do primeiro texto do ano, se identifica com o tema?
Um oferecimento Vida Vivida…
Sigo com o financiamento coletivo no apoia.se, uma forma de ajudar a continuidade saudável do projeto… Então, se puder:
Se gosta do meu trabalho e preferir menos burocracias e mais rapidez, também pode me fortalecer, no melhor valor ao seu bolso, por meio de pix para esdraspereiratv@gmail.com.
Já comprou meu conto Sítio (Des)esperança, na Amazon?
#ParaLer 📚 📚 📚
Esse é um livro que começa um pouco morno, arrasta e depois vai ganhando ritmo... Até chegar ao ponto de explodir o leitor, junto de sua trama. A francesa tem um texto fora de série. E, dentre minhas leituras de 2022, essa é mais uma que me fez feliz por um motivo especial: o fato de ter uma mulher como autora.
#ParaVer 📺 🎬
Mais uma obra que vale a pena do diretor e cineasta Oriol Paulo. O espanhol tem um talento responsável por cativar todos aqueles que gostam de desfrutar de uma boa história de suspense. E é daqueles que nem sempre escancaram todas as respostas, deixando a milhão a mente de quem assiste seus filmes.
#ParaOuvir 🎧
Essa aqui vai para os #FelittiLovers, principalmente. Se bem que, ao admirar Chico Felitti, provavelmente você já sabe que ele lançou um novo podcast True Crime. A princípio, não creio que causará um rebuliço semelhante ao de A Mulher da Casa Abandonada (muito menos que haja essa intenção), mas vale acompanhar para ver no que vai dar…
Desabafos importantes de início de ano…
Um dos tweets para emoldurar neste começo de novo capítulo chamado 2023:
E mais…
A criatividade duvidosa no anúncio do Galo
CriONÇA mais estilosa do Brasil
Uma versão talentosíssima de ‘Dengo’
Depois dos últimos anos/dias, uma verdade absoluta:
Aliás…
Me entrevistaram para falar um pouco de saúde mental
A primeira de 2023…🎵🎙️
Com base nos critérios de recompensa do financiamento coletivo mensal, meu agradecimento especial a:
Mariana Maginador, Rafael Vieira, Camila Laister Linares, Bruno Rodrigues, Carol Magnani, Adelane Rodrigues, Rose Ferregutti, Fátima Castanho, Rogeria Portilho, Piero Vergílio, Lucas Pereira, Vitor Cavaller, Welliton Nascimento e Beatriz Souza.
Até semana que vem! 😘
Dia desses, antes de dormir, me imaginei em um local cheio de plantas, com uma paisagem linda e tranquila, onde eu estava totalmente só e não precisava ver nem falar com ninguém. Me deu uma paz que nem sei explicar...
Não sei o que significou essa visão que tive mas, lendo a sua reflexão hoje, fez todo o sentido pra mim falar sobre silêncio e deixar esse relato aqui.
Você leu meus pensamentos, Esdras, hehe. Obrigada por isso ✨
Essa reflexão foi simplesmente incrível, amo a forma com que você traz os textos, me sinto conversando com você, é fantástico. Desde que me dei conta conscientemente venho de uma vida tão ativa, sem momentos para o ócio, para o silêncio, esse ano estou focado em priorizar isso, momentos em silêncio, momentos tranquilos, momentos para "não fazer nada, não pensar em nada", tenho certeza que será um ótimo investimento de tempo e saúde mental, sem contar a melhoria na criatividade já que o trabalho como criador não combina nadaaaa com uma mente exausta.