Pode parecer exagero a alguns, mas é estranho e até um pouco doloroso escrever essa edição.
Afinal, construí uma rotina de praticamente dois anos. Em boa parte desse tempo, semanalmente eu tinha uma mensagem pra trazer, uma reflexão pra pôr à tona.
Até aqui, mais de 80 edições, desde o final de maio de 2022.
E a escrita sempre me causando dualidade de sentimentos, às vezes enaltecendo-a, às vezes transparecendo seus dilemas. É um verdadeiro ofício de sobreviventes no mundo líquido de ode aos vídeos imperdíveis de 15 segundos.
Venho percebendo, não é de hoje, que a newsletter se distanciou um pouco de um compromisso saudável que havia estabelecido. Passou a esbarrar num posto de obrigação que eu não quero alimentar por ora — afinal, já são tantas nessa vida pra lidarmos.
Nesses dois anos, várias pessoas investiram financeiramente no projeto, e rolou até um patrocínio em dado momento, o que me motivou demais — o mundo é capitalista, não adianta tentar negar (quem não queria ser bem pago por algo que faz com tanto carinho?).
Motivou principalmente porque, embora muitos insistam em classificar a escrita ou outras atividades ligadas à arte e ao intelecto como meros hobbies, dá um trabalhão, de horas a fio.
Então, apesar da dificuldade em “passar o chapéu”, não há nada de errado em receber por isso. Aliás, esse retorno me resgatou um sonho: o de enxergar valor nas minhas palavras.
Mas sinto que chegou o momento de dar uma pausa considerável. Chamo de pausa porque ainda não tenho certeza se é um fim, de fato. Talvez seja um tiro no pé. Ou talvez seja apenas a decisão mais corajosa e correta mesmo.
E não é só pela frustração que às vezes bate sobre o custo-benefício — embora ainda viesse contando com pessoas muito incríveis que, mês após mês, seguiam com seu voto de confiança.
É também uma sensação de não ter muito mais o que falar neste momento. Quantas vezes a gente encontra esse sentimento nesse tempo aniquilante de redes sociais? E quantas vezes a gente, de fato, se permite silenciar um pouco? Por que falar por falar, estar por estar?
Por aqui, no Substack, o alento é saber que não faltam pessoas incríveis “falando” por meio da escrita de suas newsletters. Eu poderia nomeá-las, mas correria o risco de ser injusto deixando alguém de fora.
O que também alivia é saber que, entre essas mais de 80 edições, houve inscritos tocados por alguma reflexão, mesmo que de maneira efêmera.
Alguma frase que ficou na memória, alguma identificação, algum atravessamento, alguma lição, alguma mudança de perspectiva, alguma fagulha de evolução.
Muitas vezes, evoluímos em simbiose. Eu escrevendo, colocando sentimentos pra fora, mas também lendo o que muito do que eu vivia causava em você que me acompanhava.
Se em um instante se nasce, e se morre em um instante, um instante é bastante para a vida inteira. (Clarice Lispector)
Sem dúvidas, até aqui, esse é o projeto que provavelmente mais me transformou. Porque a transparência e a admissão sobre muitas das próprias vulnerabilidades têm preços altos, sobretudo no mundo em que recortes de vidas maravilhosas vendem bem mais.
Se uma ponta de transformação aconteceu por aí também, melhor ainda.
Obrigado a você que me acompanhou, incentivou e colaborou com trocas tão bonitas durante tantas semanas.
Esse respiro com tempo indeterminado é fundamental — quem sabe, no futuro, pinta uma notificação surpresa aí no seu e-mail?!
Porém, se mais tarde perceber que é um adeus, mesmo assim terá valido a pena enquanto durou. Me soa um pouco egoísta a ideia de finais serem sempre um sinal de que não deu certo. Pode simplesmente ter dado enquanto teve de ser, não?!
Certo mesmo é que há muito mais pela frente.
Valeu, de coração, por tanto, e por tudo que vivemos até aqui.
😘
Com carinho,
Esdras
Recado importante:
Se você é assinante pago, fique tranquilo(a), sua assinatura não será mais cobrada enquanto a newsletter estiver inativa.
um abraço enorme em você <3
Foi legal acompanhar essa jornada, e todo ciclo é importante. Obrigado por compartilhar tantas ideias e reflexões, ou mesmo uma pausa para respirar.