Antes, em Vida Vivida…
#24 - [só o amor nos faz resistir]
#23 - [peixe frágil]
Às vezes, tudo o que preciso são caminhadas. Para organizar pensamentos, para ter ideias.
Pode parecer estranho a alguém que gosta tanto de corrida e inclusive tatuou um “run” abaixo da panturrilha direita.
É que passo sobre passo parece que enxergo melhor o mundo. Já corremos tanto na vida que, quando se aceleram dois pés, mais uma vez não conseguimos contemplar o todo — eu, pelo menos. Podem até surgir algumas impressões, mas meus olhares mais atentos dependem de passadas calmas.
Dedos na biometria do portãozinho do prédio para se libertar da segurança.
Na rua, a selva de realidade.
Basta virar duas esquerdas, uma direita e seguir reto metros à frente para, lá embaixo, o retrato da desigualdade se desenhar naturalmente diante de cada olho.
Se meus passos até têm certa velocidade, os dele não.
É que segurar três sacos plásticos gigantes repletos de recicláveis significa carregar o próprio mundo de incertezas nas costas.
Um boné, algumas tatuagens pelo corpo, pela pele não tão limpa e a transparência no olhar de alguém que dificilmente projeta um futuro. A luta por sobrevivência é diária para milhares; afinal, há muitas histórias por aí sem tempo de investir e romancear horizontes.
O bom da vida é que nem o peso triplicado no lombo impede um aceno e um sorriso depois de receber um boa tarde de alguém que o notou. Na invisibilidade, certamente, a atenção vale incontáveis latinhas. Se pudessem, alguns escreveriam: “troco latinhas por olhares sinceros”.
Enquanto isso, eu, como de costume, me lembro de minhas “melancolizações” de vários de meus problemas, quando no papel sei sangrar versos como:
Às vezes
só o sol é capaz
de preencher
o vazio
da escuridão interna
Não nos vemos mais, a distância aumenta. Aqueles segundos de contato me marcam, como tantos outros encontros especiais que já tive com desconhecidos importantes.
Por que, para boa parte da sociedade, é tão difícil ao menos estender contatos visuais? Por que olhar tantas vezes para baixo e para o lado como se os olhos fossem capazes de nos iludir e apagar os problemas sociais do mundo?
Se a batalha de muitos é mais difícil que a de outros, se há personagens possivelmente invisíveis, devo comemorar ao menos uma igualdade de condições: ainda não anoiteceu e a lua cheia já está linda no meio do azul, nada é capaz de ofuscá-la. Assim, até as vidas mais ingratas conseguem encontrar um brilho. Que sorte o céu ser uma obra única, capaz de contemplar privilegiados, mas também principalmente aqueles que lutam com unhas e dentes para manter o sangue circulando pelas veias.
Atuação de milhões - A indicação de filme hoje é para “The Good Nurse”, cuja tradução atribuída ao português foi meio bizarrona, rs. O filme, que também poderia muito bem ser um documentário, conta a história de Charles Cullen, um serial killer que trabalhava em hospitais dos Estados Unidos e chegou a matar cerca de 300 pacientes até finalmente ser preso. Por ser baseado em fatos reais, o desenrolar não é dos mais surpreendentes, mas Eddie Redmayne, intérprete de Charles, entrega TUDO!
Papo leve, da melhor qualidade - A entrevista do Mano Brown com o Zeca Pagodinho na segunda temporada de ‘Mano a Mano’ me trouxe uma paz enorme enquanto ouvia. Vale a pena demais:
Uma pausa rápida para um pedido importantíssimo…
Talvez você não imagine, mas produção da news é bem trabalhosa. Entre escrever, organizar, fazer a curadoria de conteúdo, revisar e editar, pode levar entre 4 e 6 horas de dedicação, sabia?
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Aliás, aproveitando o intervalo rápido para os reclames do Plim Plim não tão lucrativos quanto eram os do Faustão…
Poderia me dizer o que mais gosta na news, sugerir melhorias, dizer o que tem achado até aqui? Afinal, com essa, já são 25 edições, um trabalho que tenho bastante orgulho de desenvolver…
O meu quintal é maior do que o mundo - Manoel de Barros
O que ando apaixonado por Manoel não se escreve, se explica. E essa antologia só faz isso aumentar. Sua poesia é ímpar, é incomparável, é inimitável (nem sei se a palavra existe, mas ele ficaria orgulhoso).
E mais indicação de leitura: tem conto meu à venda na Amazon…
Uma cidade tomada pelo carvão, uma personagem imersa em dor e injustiças, um lugar de horror e uma coincidência de nomes que muda destinos. Uma história curtinha, para devorar da primeira à última linha, rapidamente.
Uma teoria que explica muito do que estamos vivendo
O não me-re-ci-men-to de ir à Copa é o menor dos problemas de Dani Alves
E por falar em Copa…
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas. (Conceição Evaristo)
E para encerrar, não tinha como ser diferente… 🎵🎙️
Gal, como dizem, tinha um cristal na voz. Foi resistência em época ditatorial, quando principalmente Gil e Caetano foram exilados. Gal representou a trincheira da continuidade do tropicalismo. Perdemos todos. E, por outro lado, ganhamos todos também, pelo privilégio de poder ter acompanhado (e ainda acompanhar) as lindas canções desse meteoro da Música Popular Brasileira.
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