Antes, em Vida Vivida…
#25 - [caminhadas da vida]
#24 - [só o amor nos faz resistir]
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O pôr do sol de ontem pode ter sido o último que presenciei. O mesmo vale a você. Ou então pode ser que o próximo fim de tarde seja o derradeiro, a última oportunidade desse deslumbramento.
Venho refletindo bastante sobre isso. Sempre digo que a morte de algumas pessoas, próximas ou não, nos faz pensar. É difícil existir alguém que goste de trazer essa pauta indigesta à tona, mas é uma realidade inquestionável.
Há algumas semanas, o assunto tem me rondado, abrindo uma espécie de calha em mim, pedindo passagem para que eu reflita, como se fosse um chamado para reverberá-lo.
Dias atrás, uma moça conhecida à minha família, super querida, com menos de 35 anos, se não me engano, partiu como quem joga uma bomba ninja e desaparece. Saudável até então, apenas diabetes, porém controlada… De repente o descontrole veio e tudo se esvaiu. Três filhos, um novo amor recente, uma vida inteira pela frente cortados por um piscar de olhos sem despedida.
Também não distante, a morte de Gal Costa, aos 77 anos. Não tão jovem, mas aparentemente sem grandes problemas, até nos deixar.
E me chamou a atenção, no meio de tantas entrevistas sobre ela, uma com o filho dela, Gabriel, de 17 anos, no Fantástico. O jovem, entre outras coisas, disse que não tinha a dimensão completa do gigantismo da mãe até a morte vir. E comentou que de certa forma se arrepende de não ter aproveitado mais a mãe, já que as séries/filmes e um quarto fechado muitas vezes pareciam mais interessantes.
Aproveito o arrependimento de Gabriel para pensar: quantos de nós também nos arrependemos até lidarmos com o destino implacável?
Uma das maiores referências nacionais no assunto, a médica Ana Claudia Quintana Arantes, especialista em cuidados paliativos e autora do livro “A morte é um dia que vale viver”, foi cirúrgica numa entrevista à Vida Simples, em 2020.
“É um momento sagrado. Talvez mais do que nascer. Falar sobre a morte não é trazê-la para perto, mas uma chance de você avaliar a maneira como está vivendo. Costumo dizer que tem gente tão anestesiada – não olha para si, para o sofrimento – que só falta morrer de fato. São como zumbis existenciais, que vivem uma morte emocional. Gente que se afasta da família, não busca sentido na vida, não reflete sobre quem é nesse universo e não se importa com a sociedade, o planeta.”
Essa “ronda” da morte, com pedidos de reflexão, também me alcançou de outra forma há alguns dias. Rompi uma relação de primeiro grau em março e, nesta semana, uma pessoa próxima a essa outra, me mandou mensagem dizendo que essa distância tem causado muito sofrimento. Em mim também, é verdade, afinal sofrimento e amor não necessariamente são indissociáveis.
Contei à minha namorada sobre o contato e ela me fez raciocinar mais uma vez.
“Sei que é algo duro, meio cruel, mas você tem que pensar: e se a pessoa morresse, você teria arrependimentos, algo ficaria pelo caminho?”, perguntou-me, embora não exatamente com essas mesmas palavras.
Um outro sinal me arrebatou durante uma das corridas da semana. Passei pelo mesmo ponto em que encontrei meu amigo Jomar pela última vez. E fiquei pensando: puxa, que insano a gente nunca saber quando são nossos últimos encontros com alguém que amamos, queremos bem.
Entre meus autores preferidos, Rubem Alves era um que também costumava tratar da morte em suas reflexões.
“A morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. A branda fala da morte não nos aterroriza por nos falar da morte. Ela nos aterroriza por nos falar da vida. Na verdade, a morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a própria vida, as perdas, os sonhos que não sonhamos, os riscos que não tomamos (por medo), os suicídios lentos que perpetramos. Embora a gente não saiba, a morte fala com a voz do poeta. Porque é nele que as duas, a vida e a morte, encontram-se reconciliadas, conversam uma com a outra, e desta conversa surge a beleza... Ela nos convida a contemplar a nossa própria verdade. E o que ela nos diz é simplesmente isto: ‘Veja a vida. Não há tempo a perder. É preciso viver agora! Não se pode deixar o amor para depois...’”
Às vezes dá vontade de ter um antídoto infalível à morte, sejamos sinceros. E eventualmente ele até existe — pena que somente na singeleza e naturalidade das crianças… Como a pequena vizinha do meu avô, sugerindo que ele pintasse imediatamente seus cabelos brancos de pretos “porque gente de cabelos brancos está mais perto de morrer”. Quem dera essa fosse uma solução de imortalidade, né?
Sem encontrarmos alternativas para burlar o fim (nosso e dos outros), aprendamos a lidar melhor com ele, aproveitando cada encontro ao passo de que fosse um verdadeiro gran finale. E caberá a nós administrar algumas de nossas saudades, como bem descreveu Bethânia em relação a Gal:
“Ah eu não quero perder não (a saudade). A saudade vai ficar, eu quero que fique.”
Espero que tenha gostado do texto de hoje… Poderia compartilhar com mais gente?
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Aula de jornalismo - Você deve se lembrar dessa história, de 1994. Foi no ano em que nasci, mas passei a entendê-la melhor durante a faculdade, afinal o caso Escola Base virou tema das aulas de Jornalismo. Um casal (donos da escola) e outras duas pessoas foram acusadas injustamente de promover um ambiente de terror e abusos a crianças. Houve uma sucessão de erros. Uma mãe que criou uma história fantasiosa na cabeça; uma outra mãe que também comprou a ideia; um delegado que fez acusações sem concluir a investigação; e um repórter, Valmir Salaro, que trouxe a notícia em primeira mão deixando de ouvir os acusados. Isso sem falar em policiais que teriam torturado os acusados durante o processo. O Globoplay transformou esse caso emblemático em um belo documentário.
À beira mar - Abdulrazak Gurnah
O Nobel de Literatura 2021 não é à toa. Livro com uma escrita capaz de nos atravessar. Bem contemporâneo, por tratar principalmente da questão dos refugiados. Ponto negativo: a confusão às vezes causada pela quantidade de personagens.
Agora vamos com um pouco de leveza a essa edição digna de bastante reflexão…
Lembra dos comerciais incríveis da Nike? Voltaram!
Uma reportagem interessantíssima
Como seria seu dia perfeito? Keanu Reeves deu o papo sobre o dele
Chicco Mattos sabe muito do riscado


Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. (Fernando Pessoa)
E para o tchauzinho de hoje… 🎵🎙️
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