
Pensei um bocado sobre quais palavras pincelaria no papel em branco na edição de hoje. Gosto de escrever a news já no início da semana, para administrar melhor o tempo.
E o sábado e domingo que antecederam a segunda das palavras no documento vazio não foram dos mais simples. Um amor futebolístico com derrota, uma preocupação nacional com sentimento estranho, de continuidade à angústia.
O domingo até sobrepôs o sábado no grau de tensão. Porque é mais fácil consertar um elenco no futebol do que um elenco no espectro político. Na bola, é possível levar anos sem comemorar títulos, mas a chama segue viva, na esperança de um dia o caminho das vitórias vir à tona novamente.
Não é tão simples assim com relação ao elenco que decide muito de nossas vidas. O outro lado diz que meramente é uma questão de trabalhar. Trabalhe e terá sua cerveja e picanha até o fim do mês, não seja preguiçoso. A coerência prova que não é bem assim. Há quem labute muito e desfrute muito pouco. Essa é a verdadeira realidade, é a transparência de um Brasil que sofre. Peleja tanto que há uma massa de 33 milhões que sequer encontram alento à própria barriga.
Hoje não era uma edição em que gostaria de escrever angustiado. Porque nos dias da semana antes do fim dela, fiz uma viagem gostosa. Reencontrei as nuvens no céu depois de três anos sem estar num avião. Depois que a gente se acostuma a viajar, ter um hiato desses é estranho. Conheci um professor daqueles bons contadores de história, também turista em Foz do Iguaçu, e ele disse uma grande realidade: melhor investir em viagens do que em Rivotril.
Em breve, quem sabe eu escreva mais sobre o que conheci em Foz. Fale um pouco da grandiosidade da natureza evidenciada nas Cataratas. Do quanto aquela imponência se aproxima do divino. Das sensações de conhecer a Usina de Itaipu. Da paz encontrada num templo budista. Das curiosidades ao estar no interior de uma mesquita. Do tango argentino. Do lado paraguaio da força. Houve muita história a ser contada, como de costume quando se tem uma mochila nas costas e sede de desbravar onde se tem vontade.
Mas hoje, e daqui em diante, não posso deixar de externalizar minha preocupação com o que virá em solo verde-amarelo. Dói ver tríades como Deus-pátria-família serem incorporadas por pessoas que parecem estar de joelhos e mãos atadas, sem entender aquilo que rogam. Dói ver milhões caindo no conto de um falso Messias.
Aqui, um pontuar em meio ao deslizar dedos: não há santidade neste Brasil. Não é necessariamente uma questão de optar pela melhor escolha da vida. Diz mais sobre limpar um pouco do rio de sangue, translúcido ou não, espalhado pelo ódio institucionalizado. Diz muito sobre começar a erguer trincheiras para rumar a outros caminhos. Apertar 13 não significa ser petista, lulista e aquilo que integrantes de um terrorismo político tentam te induzir. Apertar 13 é um anseio pelo recomeço da paz, do desvio à truculência.
E será a mais difícil das batalhas de nossa história. Talvez alguns de nós não estaremos por aqui para presenciar o desenrolar do front que tende a ser incrivelmente longo. Uma guerra que pode levar décadas. Já perdemos muito em 2 de outubro. Outras doses cavalares de destruição foram avalizadas. Teremos legisladores e executores tacanhos a perder de vista.
O bolsonarismo é o grande protagonista de nossos dias enquanto sociedade brasileira. É importante reconhecer e não subestimar nunca mais.
Estamos longe de qualquer festa, Brown já dizia com propriedade lá em 2018, num discurso que segue contemporâneo, atemporal. Não tem clima de comemoração. É tempo de estar atento e vigilante com o que acontece e vai acontecer. É tempo de filtrar quem queremos por perto.
É tempo de entender o tipo de brasileiro que queremos ser caracterizados enquanto cidadãos deste país. É tempo de luta árdua. Estejamos prontos e com a terapia em dia. Precisaremos.
Para estimular uma tentativa de debate saudável por aqui. Nesta semana perguntei no meu Instagram se era possível dissociar o que pensamos de uma pessoa da escolha política dela.
Se você se sentir confortável, explique seus motivos…
Dos bons - Gostei bastante de um dos últimos filmes que assisti na Netflix. Lou, nome da personagem central da história, traz uma história de fios soltos que vão sendo encapados com o desenrolar da trama. Uma mistura de suspense e ação daquelas de derrubar pipoca pelo sofá.
Tempo nas telas - A Beatriz Guaresi, responsável por uma das news brasileiras mais legais aqui no Substack, a Bits to Brands, participou de um TEDx e trouxe uma reflexão fundamental aos nossos dias.
Discurso da Servidão Voluntária - Éttiene de la Boétie
Assunto complexo, possível de fazer diversas associações, com o mercado de trabalho, com as nossas relações, com a política. Portanto, vem a calhar numa edição como esta. Quanto somos subservientes? Quantos tiranos nos dominam? Grande leitura!

Um vídeo para passar mal de rir
tenho morrido muitas vezes
depois respiro fundo,
lavo o rosto, sigo em frente
não é fácil morrer
difícil é renascer
fingir-se de sol
cegar a lua
beber o mar
detestável seria ter a covardia
dos que me mataram
eu sigo renascendo
eles seguem covardes (Pedro Munhoz)
*agradecimento especial à Jéssica, que me apresentou essa belezura de poesia ❤️
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