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Dia sim, dia também, sinto doses de ansiedade que não são homeopáticas.
Um anseio de quem gostaria de ser o cartomante do próprio destino.
Se sabemos unicamente que aqui jaz, a vida precisa ir além.
Ternos caros, alta costura, roupa recém-saída da melhor lavanderia da cidade.
Colar de pérolas, vestido de seda, brincos que reluzem e combinam com o salto alto.
A mesa do escritório preenchida por todos os aparatos de tecnologia para dar conta da agenda em que, nos intervalos, só se contemplam xícaras de café e latas de energético.
As redes sociais embelezadas pelos melhores ângulos, pela inexistência de marcas e linhas de expressão. Os filtros é que ditam tudo.
O salário do fim do mês, astronômico. O próximo apartamento de mais de 100 metros quadrados virá. Fico pensando pra quê 100 metros quadrados quando só se usa menos de um quarto disso para recostar a cabeça por pouquíssimas horas.
A vida precisa ir além.
Pessoas ostentam vidas materiais e mal conseguem olhar nos olhos de quem está à frente.
Como se o caminho dos próprios pés só ficasse belo com uma competição desenfreada por cifras.
Às vezes parece que a realidade é o cabo de guerra das crianças na escolinha. Passei ao lado e vi a professora cantarolando aos pequeninos. Eles, ali, já vivem o futuro em forma de presente. A impressão mais verdadeira é que sempre vai haver forças contrárias nos puxando, tentando derrubar. Só os poderosos importam.
É possível não cairmos. Mas chegamos pertinho de um abismo imaginário. Um buraco negro que depois vira real, enquanto as vozes agudas de meninos e meninas se dissipam. A brisa passageira leva o silêncio pelo ar. E mesmo silenciosa, carrega significados.
No meio das histórias com cada vez mais “tô numa correria” e “a gente combina”, a palavra prioridade é apagada do dicionário.
O tempo sempre foi o mesmo. A contagem das horas, minutos e segundos nunca mudou. A física ainda não proporcionou a tão sonhada cápsula do tempo. Quanto será que vale o de quem seleciona o feijão de cada dia com destreza? Parece até terapia de desaceleração e paz.
Correr, só se for pelas ruas, com espaço de alternância com caminhadas provando que os olhos ainda se abrem para o mundo e não só para as telas hipnotizadoras. Correr só pra ver o suor se acumulando e, de gotinha em gotinha, poder sentir a alma lavada.
A vida precisa ir além de apenas atropelar o tempo.
Bonito mesmo é o relógio dos beija-flores. Espalhando suas cores pelo ar, eles aprenderam a tornar devagar a própria rapidez. Porque se as asinhas batem rápido feito carros de fórmula um nas maiores retas, elas também dão a impressão de flutuarem no ar. E a hipnose do flutuar não é efêmera. As batidas aerodinâmicas são dignas de contemplação.
Um beija-flor pousou na minha sacada e me contou, enquanto bebia água, que não gostava de ver as pessoas correndo. Me confidenciou, sem precisar verbalizar, que de uns tempos pra cá, poucos dedos se estendem em sua direção como tentativa de início de uma amizade.
- As pessoas só correm. Deveriam flutuar mais também -, emendava na linguagem do bater de asinhas.
Preto, azul, com detalhes em vermelho. Era tão bonito. E queria carinho em forma de atenção.
- Ai do mundo se além de água os donos de sacada tivessem tempo…
- Ai do mundo se pelos vidros eu pudesse assistir famílias que se falam no almoço.
- Ai do mundo se pelas frestinhas eu pudesse ver mais páginas de livro sendo abertas.
- Ai do mundo se pelos feixes de luz eu pudesse contemplar mais amor.
Naquele dia, antes de ir embora, o beija-flor me disse:
- Sabe de uma coisa? A vida precisa ir além.
A edição de hoje vai ser um pouco diferente das outras. Não teremos as seções costumeiras. Teremos um respiro a mim e a você. Isso vai acontecer principalmente depois de eu me lembrar de um texto que li, numa coluna de Becky Korich, na Folha de São Paulo, chamado “A nova fobia coletiva”.
Becky aborda, sobretudo, a escassez de pausas e silêncios em nossas vidas. Estamos sempre atrás de algo novo, da série recém-lançada, do podcast do momento, do melhor filme do mês… O nosso consumo é cada vez mais irrefreável.
Acho muito justa a curadoria de conteúdo que tenho feito, com indicações que acredito ser úteis à vida dos assinantes da news. Mas, vez ou outra, também considero primordial que aprendamos a parar mais, tranquilizar nossos passos acelerados.
É fundamental darmos atenção à vida frenética que levamos e substitui-la, dentro da possibilidade, por uma vida de conversas imaginárias e doces com beija-flores, feito a crônica do texto principal desta edição.
Prestes a encerrar o nosso encontro de hoje, lembro justamente do fim do texto de Becky:
“Sobram dedos para deslizar em telas, faltam dedos para deslizar em corpos, segurar canetas e livros. Faltam papel, pele, cheiro, calor. Falta intimidade.
Sobram informações, tarefas, estímulos, referências. Só que o excesso de informações desinforma; o excesso de tarefas é improdutivo; o excesso de estímulos aliena; o excesso de referências enlouquece.
Não são com excessos que se preenchem vazios. Mais do que isso: alguns espaços existem justamente para não serem preenchidos”.
Também dá para quase dizer tchau com música:
Agora, uma ajuda sua…
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