“Nós não sabemos ao certo qual é a nossa jornada, qual é o nosso destino, até chegarmos ao final de nossas vidas. Você não pode saber se falhou até chegar ao final. Então porque pensarmos que, se algo não se direcionou da maneira que queríamos, nós falhamos? Se aconteceu (inesperadamente), é porque algo diferente vai acontecer, mas não quer dizer que você falhou”.
A frase acima é da atriz norte-americana Kate Sackhoff, de 42 anos, em entrevista dada em 2019 ao influenciador digital inglês Jay Shetty, para o podcast On Purpose.
A entrevista, que soa mais como uma conversa informal entre duas pessoas super inteligentes, foi uma das melhores que acompanhei naquele ano. Entre outros pontos muito interessantes, absorvi quatro pensamentos fundamentais: precisamos tentar enxergar situações em outra perspectiva; precisamos não ser tão duros com nós mesmos; precisamos entender que nem todos vão gostar de nós e não levar para o lado pessoal; e, por último, mas não menos importante, precisamos ser mais gratos por aquilo que temos.
No começo da entrevista, Kate trata de um modelo enraizado na sociedade. Antes de se encaminhar às artes, ela trilhava um caminho em direção à natação. Era ótima, mas não gostava daquilo. E, como bem retratou, ser bom em determinadas frentes não necessariamente significa ter prazer. Quanta gente vemos por aí seguindo parâmetros tradicionais, sobretudo em relação às jornadas profissionais, com base em pressão familiar ou da sociedade em si?
É o jovem que gostaria de ser gamer, mas “tem” de ser médico; a jovem que sonhava jogar futebol, mas “precisa” ser advogada…
Não quero dizer que fazer o que amamos só implica em prazer. Entendo que trabalho é trabalho e tenho odiado cada vez mais o jargão piegas “trabalhe com o que ama e não trabalharás um dia sequer”. Sim, você trabalhará. Sim, o dia a dia demandará esforço e muita dedicação mesmo. Isso justifica que, mesmo amando, não será fácil. Assim é com a minha escrita, inclusive.
Pessoalmente, foi de grande importância ter ouvido o bate-papo entre Kate e Jay. Faz parte daqueles momentos em que algo vem em sua direção e você não entende o porquê. Veio a calhar à época, por ter sido pouco depois de eu ter voltado de férias de um trabalho e então saber da minha demissão.
Kate fala que foi recusada em pelo menos seis ou sete audições. Atualmente, é muito evidente o modelo de sociedade em que vivemos, com uma série de critérios (intelectuais, mentais, ideológicos e até os estéticos) para sermos aceitos. Ela, no entanto, não administrava qualquer recusa como algo pessoal.
Sobre o processo de falha, Jay entende que “falhar é parar de tentar”. Acredito que seja uma maneira justa de se pensar. E digo mais, embora via de regra sucesso seja “contabilizado” por conquistas, acredito que fazer a diferença na vida das pessoas seja a mais cativante das glórias. Seja como for: elogiando, ajudando, aconselhando, trocando ideias e por aí vai. Em resumo, Kate desenhou com palavras o que se aproxima muito da maneira com que reflito a respeito:
“No fim da sua vida, você não quer ‘derrubar o microfone’ e pensar: ‘ah, isso aqui foi divertido’. No fim da sua vida você tem que se questionar o que você amou intensamente, o que as pessoas souberam que você amou intensamente, as suas contribuições. Basicamente, você nunca pode pensar só em viver por você, mas sim pelos outros também.”
Há 15 anos, a norte-americana foi diagnosticada com câncer de tireoide. Admitiu saber que as ameaças à própria vida eram pequenas, mas não tinha a proporção do quanto mudaria sua trajetória. Percebeu ali a real fragilidade da caminhada. Permitia, durante 10 minutos por dia, sentir pena de si: gritava, chorava, fazia o que sentisse que deveria, mas as ações não poderiam se repetir pelo resto das horas.
“E aí eu fui percebendo, na verdade, o quão sortuda eu era, e esses 10 minutos foram diminuindo. Comecei a chamar de ‘my baby cancer’ porque poderia ser muito pior. Aquilo me permitiu a se sentir grata porque era ‘apenas aquilo’, já que na clínica tinha muita gente em situações muito piores”, lembrou.
Kate também criou o “método das três coisas” para barrar pensamentos negativos, ou pelo menos amenizá-los. Por exemplo, se você está irritadíssimo ao estar preso no trânsito a caminho de uma reunião, pense em três situações que deixariam tudo muito pior (um pneu furado, chuva e a pior das dores de cabeça). Ela diz ser uma forma de amenizar a negatividade.
E ao falar do câncer, controlado e com necessidade de acompanhamento a cada seis meses, tratou também de outro tema: a autoaceitação, principalmente quando relacionada à estética. Assim como muita gente ao longo da vida, ela obviamente já fez críticas ao próprio corpo, à própria beleza. Mas aprendeu uma grande lição com uma terapeuta — serviu para que ela enfatizasse que “perfeição não existe”.
“Não tem ninguém como você no mundo, e isso é tão especial. Você é único, até se tiver um irmão gêmeo idêntico, porque os DNAs estão constantemente mudando. Não tem ninguém perfeito, ninguém melhor que ninguém”.
Em 2019, essa entrevista me serviu como grande lição, motivou a seguir em frente com boas perspectivas e óticas valiosas. Espero que os pontos principais também tenham causado efeitos colaterais interessantes a quem chegou até aqui. Cada dia é uma chance para provarmos nossa diferença até o ‘gran finale’.
E vivendo um dia de cada vez, até chegar lá, saberemos se tudo isso valeu a pena quando derrubarmos o microfone.
*Esse texto foi publicado originalmente no meu Medium, em 2019, e foi adaptado à news.
🧭 Espaço Humanamente
Nesta edição, Vida Vida conta com apoio de Espaço Humanamente, que tem como um dos principais objetivos a democratização do acesso à saúde mental.
O símbolo colocado ali em cima não é por acaso. Uma bússola. Assim como Kate Sackhoff, a protagonista do texto do dia da news, quantos de nós já não nos sentimos completamente perdidos em algumas etapas da vida? Seja por uma doença, um problema profissional, pessoal ou familiar.
Quando Chris Martin, vocalista do Coldplay, canta que nobody said it was easy, ele consegue descrever a nossa história por aqui em síntese. Para guiar nossas próprias narrativas, precisamos dessa tão necessária bússola. E o Espaço Humanamente te ajuda a encontrá-la, a partir da terapia.
No mundo em que aparentemente pode-se tudo, como escolhemos caminhos mais adequados? Como lidamos com a sensação de fracasso? O atendimento psicológico, entre outras coisas, permite justamente encarar a falta, a confusão, a dificuldade de encontrar melhores rotas. Acima de tudo, buscá-lo é um grande ato de coragem.
Um amor terno - Na última edição, publiquei um texto retratando um pouco do amor aos meus avós e falando de como eles são figuras incríveis em nossas vidas. Coincidentemente, recebi a indicação para assistir a um documentário lindíssimo. Cem dias com Tata é um chamado à singeleza. Também é um pedido à maior atenção, cuidado e carinho com os idosos. Envelhecer é, na maioria das vezes, missão ingrata. Dores, doenças, dificuldades vêm. Só o amor pode, de fato, proporcionar sobrevida aos idosos. É o que mostra o ator espanhol Miguel Ángel Muñoz.
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